O FILME: QUERIDA ALICE
O PÂNICO. E A DOR QUE VIVE EM MIM. UM PROCESSO!
“Sim, eu sou imperfeito, vulnerável e às vezes tenho medo, mas isso não muda a verdade de que também sou corajoso e merecedor de amor e atenção. ”
Brené Brow – A Arte de ser imperfeito
Nesse feriado de carnaval ficamos em casa. Era meu final de semana de cuidar da minha mãe, então fizemos nossas programações habituais que ela adora. Mas depois que a levei de volta para sua casa tivemos uns momentos para descansar e assistir a filmes e séries que gostamos muito, já que aqui em Porto Alegre o tempo estava chuvoso, o que eu adoro.
Vimos alguns filmes bons, mas um nos surpreendeu positivamente e é sobre ele que eu quero falar aqui. Não esperávamos muito dele, mas foi demais!
QUERIDA ALICE, ou em inglês ALICE, DARLING. Um filme absolutamente perturbador, com uma atuação impecável e indiscutível da atriz Anna Kendrick, que antes eu só havia visto atuar em comédias ou comédias românticas e esse é um thriller psicológico absolutamente perturbador.
A sinopse do filme já diz “Uma mulher é levada ao limite pelo comportamento psicologicamente abusivo do seu namorado.” Para quem for ver o filme, cuidado que vou dar spoiler, as cenas em que Alice é tomada pelo medo do namorado e tem crises de ansiedade desesperadora são tão chocantes quanto passíveis de gatilho para quem sofre de síndrome do pânico como eu. Difíceis de ver e não hiperventilar junto com ela, não sofrer junto.
Pode parecer um exagero, mas o filme todo não mostra o abuso em si, ele deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice foi entendida por mim de forma brutal, o medo, a falta de ar, a sensação de morte. Incrível! A Diretora do filme é uma mulher de uma sensibilidade fantástica, a inglesa Mary Nighy.
Eu nunca sofri abuso psicológico, no entanto consegui me identificar com o processo do pânico, isso não muda. Mudam os gatilhos, o que levou ao transtorno. Me identifiquei com o processo da dor, a dor que vive em mim é pelos lutos não vividos durante a minha vida. Ainda estou nesse processo, não sei quando terei outra crise e se terei, ainda não sei quais são meus gatilhos, pois convivo com o transtorno há 2 anos somente.
Eu tive consciência das minhas dificuldades, eu pedi ajuda. Hoje eu não tenho receio de falar sobre as minhas dificuldades, mas ainda sinto medo, do quê? Não sei, ele vem do nada, de gatilhos inesperados como dentro de um supermercado lotado, ou na primeira viagem do meu filho sozinho para a Arábia Saudita, ou do pai de um vizinho que faleceu em casa e a funerária estava tirando o corpo da casa, ou medo...só medo!
Às vezes eu preciso relembrar de que não sou perfeita e que também sou vulnerável e que está tudo bem ser assim. Como diz Brené Brown, “vulnerabilidade é a nossa medida mais precisa da coragem”. É preciso recomeçar com coragem praticamente todos os dias. É uma luta diária, quase como um dos mandamentos dos alcóolicos anônimos: um passo de cada vez, um dia de cada vez.
No filme, Alice não tinha consciência do abuso por isso ela não pedia ajuda. Mas ela chegou em um limite em que teve de ser ajudada pelas melhores amigas. A interpretação de Anna Kendrick é visceral, é brutal, é verdadeira, é emocionante e na minha humilde opinião merece um Oscar!
Simplesmente assistam esse filme. É difícil, pesado, perturbador, emocionante, verdadeiro, mas necessário, principalmente para quem convive ou conhece alguém que sofra abuso ou simplesmente sofra da Síndrome do Pânico assim como eu.
Ele dá um pouco da dimensão das dores internas que carregamos, dos medos que sentimos, dos sorrisos que damos e os muros que atravessamos que por vezes nos fazem parecer fortalezas, mas o quanto por dentro podemos estar despedaçados; o quanto um abraço, um olhar mais cuidadoso, uma frase: “você não precisa ser forte o tempo todo, ou por todos”, faria a diferença, poderia tirar tanto do peso que se carregou por tanto tempo, ou como no filme, para lado a lado e dá a certeza de que “eu estou aqui, aconteça o que acontecer e você pode contar comigo” e “eu não vou te abandonar”.
Se a Alice não fosse uma personagem de ficção, provavelmente ela teria um longo processo de cura pela frente. É um processo de ressignificar a própria existência, acolher suas dores e entender que fazem parte. É doloroso, mas é bonito e nos reconecta com partes de nós que nem sabíamos que viviam ainda.
Por isso hoje eu só gostaria de dizer: obrigada, QUERIDA ALICE!
O filme está no Prime Video.
Fiquem bem! E assistam!