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Foto do escritorAna Miguel

SUPERAÇÃO, COM MEDO!

“Quando algo ruim acontece, você tem 3 escolhas: você pode deixar que isto te defina, que isto te destrua ou que te fortaleça.”

Desconhecido


Sempre admirei aquelas pessoas que levantam ainda noite, no inverno, para se exercitar, ou com temperaturas de 2 ou 4 graus positivos e me intrigava o que as faria se impor esse “auto sacrifício”, pois para mim era só isso que passava na cabeça.


Minha relação com os exercícios sempre foi de amor e ódio. Pagava planos de academia de 1 ano e fazia 3 meses, durante 1 ou 2 meses eu adorava, mas quando ficava difícil eu me “lesionava” ou simplesmente não ia mais, me matriculava na natação (esporte que eu achava que adorava) e fazia 2 ou 4 meses de aula, tudo era muito doloroso, difícil e acabava nunca terminando nada. E essa se tornou a minha rotina. Tentei diversas academias, tentei grupos de corrida, de caminhada, enfim seguia no meu padrão iniciava e não continuava nada.


Uma vez, em um encontro de formação de Gestalt Terapia (sim, eu tenho formação em Gestalt, mas esse é assunto para outro post) nosso palestrante disse que “uma pessoa só muda realmente e profundamente por 3 ocorrências: uma paixão de arriar os 4 pneus, a vivência de uma tragédia ou uma boa terapia.” Eu já tinha tido uma “paixão de arriar os 4 pneus”, fiz terapia durante 11 anos direto, mas nunca tinha sofrido uma grande tragédia e me considerava uma privilegiada por isso.


O motivo da minha paixão me fez arriar os 4 pneus de tal forma que me casei com ele, sim, minha grande paixão virou amor e estou com ele há 25 anos. Essa relação me mudou profundamente em muitas partes da minha vida, porque o Cris me faz ser uma pessoa melhor todos os dias. Com ele tive nosso filho Arthur que é um presente de Deus e por quem também me apaixonei, desde seus chutes em meu ventre. E te falo em chutes! O nascimento dele me mudou completamente. Mudou o brilho nos meus olhos, o suspirar pela vida, o olhar para o mundo e para o outro, mas também me fez ter muito MEDO. Da vida e suas surpresas, de perder meu filho para doenças, violência, enfim, esse medo aumentou ainda mais minha fé e como toda a mãe de joelhos rezo por proteção e agradeço todos os dias pela vida dele!


Mas minha história com a terapia veio de antes, aos 24 anos por circunstâncias da vida voltei a morar com meus pais, depois de 7 anos morando em Porto Alegre praticamente sozinha. Eu cuidava da minha vida e não dava satisfações para ninguém. Ao voltar a morar com eles não sabíamos mais como lidar uns com os outros e eu busquei a terapia, que diz a minha Dinda, é o melhor presente que podemos nos dar na vida. Fiz terapia durante 11 anos, contando o tempo da formação em Gestalt Terapia. Mudei muita coisa na vida, acessei emoções muito muito distantes e foi muito especial. Difícil, mas especial!


Levei a vida sem muitos cuidados. Quero dizer em relação à saúde, pois enquanto meus exames davam normais nas revisões, eu tinha aquela ilusão de que tudo estava bem. Sempre gostei de cozinhar, comer muito bem e beber bem também. Nossas viagens sempre foram para conhecer restaurantes e modos de vida dos locais que visitamos e qual melhor maneira de fazê-lo senão através da comida. Gosto tanto que minha dissertação de mestrado teve a ver com gastronomia.


Então, mesmo com todas essas mudanças na minha vida, meu crescimento pessoal e profissional, eu ainda não tinha sofrido nenhuma tragédia. Foi então que a vida me chacoalha e me diz: chegou a tua vez! Já contei para vocês um pouco das experiências trágicas e muito difíceis nos 3 posts anteriores a esse.


Fora todos os medos depois da morte do meu pai, da doença da minha mãe, que depois de tudo ficou dependente de uma máquina (ela faz hemodiálise 3 vezes por semana), da nossa experiência própria com o coronavírus, ao fazer a revisão com a minha ginecologista para troca do DIU, achamos por bem fazer todos os exames pós-COVID para que eu pudesse consultar meu cardio e meu gastro também. Os resultados não foram bons, muitos itens bem fora do normal como ácido úrico e diabetes tipo 2. A consulta também se estendeu ao endócrino.


Consultas e exames feitos, iniciei os tratamentos para buscar as melhoras. Neste meio tempo eu fui apresentada de forma bem pesada ao PÂNICO, tive três crises de pânico em dias consecutivos e daí o buraco foi bem mais embaixo. Incluímos no rol de médicos, o psiquiatra.


Esse chacoalhão da vida me fez enxergar muitas coisas que estavam lá no fundo da minha alma, não desconhecidas, mas por vezes esquecidas para evitar dores e responsabilidade, pois quando passamos a entender ou temos contato com certos bloqueios, ou tristezas, ou dores emocionais, é necessário se responsabilizar por aquilo, não é mais possível varrer para baixo do tapete. E isso implica em talvez mexer em feridas difíceis, lutos não vividos e muitas vezes dores quase impossíveis. Dói, e muito.

Mas como diz a frase no início do texto, eu nunca me deixei definir pelas experiências ruins que vivi. Enquanto eu estive gorda (sim, cheguei a 98kg) nunca me senti mal por isso, pois eu sempre fui mais do que peitos, celulites e barriga, sempre fugi de padrões estéticos definidos por quem eu nem sei quem é. Eu me defino! Eu escolho quem eu quero ser, não dou esse poder a ninguém. Essa característica veio da minha mãe, que é uma mulher forte, teve quatro filhos e trabalhava dando aulas de dia e à noite, uma mulher que depois de formada professora foi cursar contabilidade à noite para ajudar meu pai a formar-se. Mas ela também merece um post só para ela.


Depois de passar pelo pânico, fiz um acordo com meu psiquiatra. Tentaríamos não usar remédios de uso contínuo, mas eu deveria fazer duas coisas: iniciar exercícios físicos no mínimo três vezes por semana e fazer exercícios de respiração. Ok. Achei um bom acordo, porque o endócrino já tinha me orientado para isso, em função do diabetes. Eu precisava perder peso, urgente. De uma coisa eu tinha certeza: não queria morrer aos 50 anos assim como meu irmão, que com diabetes e hipertensão nunca se cuidou e seu coração não aguentou, há sete anos atrás ele teve um infarto fulminante e morreu num feriado de Ano-Novo. E não queria ficar como minha mãe, como eu disse anteriormente, presa a uma máquina de hemodiálise.


Contratei uma professora de natação e iniciei as aulas, duas vezes por semana, aqui no meu condomínio mesmo. Pensando em facilitar para eu não ter desculpa pra desistir. Foi difícil, minha respiração ainda estava muito comprometida e na raia de 25m eu tinha de parar no meio para descansar, mas aos poucos fui me sentindo melhor. E deu um estalo o cérebro: opa, é bom fazer exercício!


Acontece que, em função da pandemia, em março iniciou a “bandeira preta” em Porto Alegre e as piscinas, academias e áreas comuns dos condomínios fecharam, sem prazo para retornar. Mas eu já tinha sido mordida pelo mosquitinho da serotonina e endorfina e não conseguia mais ficar parada. Além do fato de que os exercícios estavam fazendo com que eu perdesse peso com mais consistência.

Minha cabeça começou a pirar sem poder fazer exercícios e os pensamentos negativos não eram evitáveis: vou engordar de novo, vou morrer se não fizer, vou ter outra crise de pânico...simplesmente não conseguia evitá-los e quase no desespero, minha personal me sugeriu experimentar algumas aulas de funcional em casa, com todos os cuidados e eu, mesmo “pensando que detestava funcional” aceitei.


Passadas duas semanas do início dos treinos, duas vezes por semana, eu disse para meu marido que estava sentindo muita falta das aulas e ele sugeriu que eu fechasse três vezes por semana e eu FECHEI. Me achei louca no início, mas hoje não vivo sem a minha funcional. Minha personal, a Tai, adapta todos os treinos às minhas possibilidades, nunca passou do ponto. Desde então vejo meu corpo se modificando a cada treino. Foram 21 kg até agora. Eu saí do IMC de obesidade 3 para o sobrepeso e hoje penso que está mais fácil chegar aos 70, 80 anos saudável e feliz.


O que mudou não foi só o meu corpo, mas modifiquei minha forma de lidar com a comida, com meu corpo e com minhas emoções. Cada treino, cada exercício me levam à exaustão, sinto músculos que nem sabia que existiam no corpo, mas incrivelmente sou feliz. Mudei minha vida, meu modo de ver a comida, meu modo de ver os exercícios e meu modo de lidar com eles. Essa nova pessoa sempre existiu em mim, no entanto dificuldades com traumas passados me faziam deixá-la no stand by e de forma consciente eu dizia que ela, essa pessoa, nunca existiu. Mas ela sempre esteve aqui comigo e tentou, mas não conseguia emergir.


Agora eu sou aquela pessoa que levanta às 6h da manhã, escuro, com 4 graus e sai para a rua para fazer seu treino. E o melhor: amooooo.


Eu ressignifiquei minha vida através do medo. Ele não me paralisou, me mobilizou e ajudou a sair do “buraco” em que eu estava.


Hoje me sinto com muita energia e feliz. Isso não significa que o medo e o pânico foram embora, de jeito nenhum, eles sempre estarão por aqui só que convivendo de uma outra forma. Consigo lidar melhor com os dois, eu consigo identificar o início de uma crise de pânico e o que fazer em seguida. Mas principalmente, sinto que me libertei de uma âncora que estava presa em meu corpo e mente desde sempre e eu mesma cortei a corda...essa sensação ninguém tira de mim. É a melhor sensação de todas, eu estou conseguindo! E nada mais me para.


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